CBF: Ricardo Teixeira Desafia Estado de Direito

             
           "caguei" montão para as denuncias de corrupção,diz Ricardo
                  


Imagine um país onde os mandatários, em qualquer nível, se acham donos do patrimônio público. E mais: alguns deles, ou melhor, grande parte, não apenas se comportam abaixo de qualquer nível médio de conduta pública, sem qualquer consciência de seu papel, como fazem questão de deixar claro com todas as sílabas. Agora, acrescente-se a isso tudo um deles capaz de estilhaçar palavras de baixo calão, como um desafio a todas as outras autoridades constituídas do país, sem se importar com lei, falta de decoro ou, minimamente, com qualquer valor moral e social. Estamos, sim, no Brasil, e este último atende pelo nome de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, se não bastasse (ou fosse suficiente), do Comitê Organizador da Copa de 2014.

Ao conceder entrevista à Revista Piauí deste mês de julho, Teixeira respondeu, com todas as palavras, da seguinte forma quando foi questionado a respeito das denúncias de corrupção durante seu período como principal dirigente do futebol brasileiro: "Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão", disparou. (Desculpem-me os mais conservadores, mas vou publicar as palavras na íntegra, para não haver dúvida quanto à intenção do dito cujo). O presidente da CBF lembra que nunca foi condenado e atacou parte da imprensa. Sobre a CPI da Nike, por exemplo, ele disse: "Reviraram tudo e não acharam nada. Foi tudo arquivado. E aí? O Ministério Público é incompetente?"

E continuou com a desfaçatez: "Já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da Seleção, a CPI da Nike e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas". Acrescentou, ainda, a sua análise sobre o papel da imprensa no Estado de Direito: “Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Que porra elas têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?". E, para terminar, fez uma análise do comportamento humano deplorável: “O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala ‘Quero um igual’. O negro não quer que o branco se foda e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria.”

Que não é novidade o comportamento de Teixeira, todos sabemos. Mas é que, a partir desta fala tão estapafúrdia e cínica, tem-se muito da personalidade de uma pessoa que, pela importância que tem, dirigente do esporte mais popular do país, sempre se esconde atrás de solenidades oficiais e estratégias de assessores de imprensa (ou consultores de marketing, como é comum falar hoje em dia) para mascarar a pobreza de sua visão de mundo. Com todo esse arsenal de má conduta, não apenas os órgãos nominados por Teixeira, mas toda a sociedade deve rejeitar tamanha arrogância. E, sim, meu caro Ricardo Teixeira, a CBF e as obras para a Copa do Mundo de 2014 (aliás, o que está se tornando maldição) envolve dinheiro público. Aliás, muito dinheiro público!



texto extraído tribunatp.com.br
em 08.07.2011

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