Esporte: O brilho da Judoca Sarah Menezes...
18/09/12
O movimento não para na casa 10 do conjunto Bela Vista, bairro de classe média da zona sul de Teresina. As pessoas querem se aproximar um pouco da campeã, até então só conhecida de alguns piauienses e mídia especializada. A própria Sarah Menezes recebe os jornalistas, atenciosa, com seu jeito simples e sereno.
Sarah também conta com o apoio do Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte, desde 2004. Começou na categoria Nacional do programa e em 2009 entrou para a categoria Olímpica. "Treinar golpes, todo mundo treina. Mas o que faz a diferença é a cabeça" (Foto: Benonias Cardoso/Piauiimagens)
Na sala principal de sua casa, tenta prever como será sua vida daqui para a frente, após a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, em Londres. “Essa medalha muda tudo. Mas vou continuar treinando para me classificar novamente para a Olimpíada, me manter bem ranqueada e conquistar mais uma em 2016”, resume.
A declaração representa uma projeção para melhores dias nas finanças e no reconhecimento como atleta. E vem com a mesma convicção mostrada nas cinco lutas que a levaram ao topo do pódio olímpico na categoria 48 kg. O segredo do triunfo: “Treinar golpes, todo mundo treina. Mas o que faz a diferença é a cabeça”, ensina.
Aos 22 anos, a piauiense interrompeu ainda um jejum de 20 anos sem ouros do país no tatame – Rogério Sampaio foi o último, em 1992. Sarah Menezes foi a primeira medalha de ouro nos Jogos de 2012 e a primeira judoca brasileira a recebê-la. Estratégia e convicção a garota exibe desde quando começou a praticar o esporte, aos 9 anos, a contragosto dos pais, que o achavam masculino demais. Às propostas para treinar fora de Teresina, onde nasceu, ela sempre disse não, obrigada. “Há 12 anos ela se dedica ao judô. O treinamento foi sempre em Teresina, nunca precisou sair daqui para ganhar título. Ela provou isso para o mundo inteiro. A Sarah não teve infância, foi tudo dedicado ao judô”, diz dona Olindinha Menezes. O pai também recorda o início da carreira, quando a menina dava trabalho: “Eu queria que ela estudasse, mas ela fugia para treinar judô”.
A menina de ouro do esporte nacional não abre mão de seguir sob o comando do técnico da infância, Expedito Falcão, sempre presente. Nem sempre, porém, o caminho de Sarah foi de conquistas e reconhecimentos. As dificuldades financeiras quase a fizeram desistir. Quando ela teve a oportunidade de viajar pela primeira vez para competir no exterior, com pouco mais de 12 anos, Expedito Falcão tirou do bolso o valor de R$ 5 mil das passagens de ambos até Laz Paz, na Bolívia.
Aos 16, precisou contar mais uma vez com o apoio do treinador e amigo para seguir em frente nos treinos. “Teve um momento em que eu quis desistir. Não tinha sonho olímpico. Não tinha mais gosto pelos treinos. Mas o Expedido sempre acreditou que eu fosse chegar à seleção e à Olimpíada”, conta. Ele, claro, não se arrepende de nada. “Sempre fomos muito cúmplices, parceiros. Nunca deixamos a peteca cair”, confirma Falcão. “Ficávamos tristes com a falta de apoio, de grana, mas é um problema que afeta o esporte brasileiro como um todo.”
Para continuar treinando no Piauí, Sarah recebe ajuda de custo da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e recentemente obteve do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tatames para montar uma Associação de Judô na sua cidade natal. Também conta com o apoio do Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte, desde 2004. Começou na categoria Nacional do programa e no ano seguinte passou para a Internacional, na qual permaneceu até 2008. A partir daí, a bolsa migrou para a categoria Olímpica, seguindo a evolução da carreira da judoca, vencedora do Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta brasileira em 2009.
O Bolsa-Atleta, que garante uma manutenção pessoal mínima aos atletas de alto rendimento para que possam se dedicar ao treinamento esportivo, viabilizou sua persistência no esporte e nos estudos. “Tem sido uma ajuda importante. Veio para amenizar. Houve casos em que eu treinava sem saber se iria ou não viajar para a competição, porque não é todo dia que você tem o dinheiro. Se eu tinha o recurso do Bolsa-Atleta, ficava mais tranquila para viajar”, lembra. E completa: “A ajuda foi um meio para que eu pudesse até me alimentar bem, comprar meu quimono, me manter mesmo como atleta”.
Sem ressaca
Mesmo ainda saboreando o gosto da vitória olímpica, Sarah Menezes não descansará por muito tempo. A menina de ouro volta aos treinos agora em setembro, com outro objetivo: o Campeonato Mundial por Equipes, em Salvador, na Bahia, entre 26 e 28 de outubro. Realizado pela primeira vez nas Américas, o torneio deve reunir cerca de mil atletas de 16 países.
Quando Sarah teve a oportunidade de viajar pela primeira vez para competir no exterior, com pouco mais de 12 anos, seu técnico, Expedito Falcão, tirou do bolso os R$ 5 mil das passagens de ambos até Laz Paz, na Bolívia (Foto: Jailson Soares)
“Vou continuar treinando. É preciso completar o ciclo para chegar a 2016”, diz. E, para completar esse ciclo, o treinador Expedito Falcão lembra que resta um caminho a ser percorrido. A convocação da seleção brasileira pela CBJ será em 28 de setembro. O time feminino terá a missão de subir ao pódio pela primeira vez num Mundial por Equipes.
“Já tivemos apoio, mas esse apoio precisa aumentar. Precisamos viabilizar a vinda de alguns atletas para treinar com a Sarah. Vamos planejar e depois sentar com alguns gestores para conseguir fazer tudo isso. E que nós possamos ter esse novo ciclo, um ciclo de alegrias”, afirma Falcão. Mesmo com foco em outras competições, Sarah já retomou o curso de Educação Física e pretende ainda começar aulas de inglês.
Mas o sonho maior para o futuro próximo é que sua história se repita – com novos personagens. A campeã olímpica já deu início ao projeto Superação, que atende hoje 70 crianças. A meta é chegar a 500. O projeto funciona a partir da adoção de um atleta através de um contrato de dois anos com a empresa ou pessoa que se interessa em apoiar um grupo de crianças. O custo de cada uma é R$ 50. “Eu vejo a minha história. Da mesma maneira que comecei, quero para as outras crianças. Sempre gostei. Desde pequena eu ia para a casa de vizinhos cuidar dos menores. Vamos investir em atletas de base. Não adianta apenas quando a pessoa chega no topo. Quero ver outras Sarahs no futuro”, afirma.
O treinador lamenta, entretanto, que essas iniciativas ainda não sejam vistas como deveriam. “Não se constrói um atleta de alto nível em quatro anos. Isso é um trabalho longo, duradouro. Não pensem que em 2016 vamos ter 500 piauienses participando da Olimpíada. Esse trabalho não foi feito antes, por isso temos de trabalhar para 2020”, analisa. Com a visibilidade trazida pela conquista olímpica, Expedito busca através do Superação tornar o judô o principal esporte do Piauí.
“Estamos tendo uma oportunidade de alavancar o judô no estado. E vamos fazer isso descobrindo talentos, o que só é possível com os treinos. Além disso, oferecer judô a crianças e adolescentes é uma forma de inclusão social”, diz. Esse trabalho social aos poucos ganha adeptos. O Movimento pela Paz na Periferia (MP3), conhecido por desenvolver ações de inclusão digital, arte e cultura dirigidas a jovens em Teresina, garantiu a doação de um prédio, que seria destinado à expansão dos trabalhos do grupo, para que a campeã olímpica realize o que diz ser seu sonho: instalar um centro de treinamento de judô para crianças da periferia.
O prédio, no centro da cidade, pertence à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e foi posto à disposição do MP3 em regime de comodato, pelo prazo de 30 anos. Atualmente, o Centro de Treinamento Sarah Menezes funciona em um imóvel cujo aluguel é pago pelo governo do estado, e o tatame, no padrão das competições mundiais, foi cedido pela CBJ, também em comodato.
Em nota à imprensa, o MP3 informou que a doação tem a ver com a dedicação de Sarah a crianças da periferia. “O local iria abrigar um projeto de expansão dos nossos telecentros, mas, vislumbrando a possibilidade de transformar o Piauí em uma potência no judô e acreditando que o público da periferia, foco do MP3, será um dos maiores contemplados com um centro de treinamento, decidimos disponibilizá-lo para Sarah Menezes”, diz o texto.
“Todo apoio é bem-vindo. O que a gente precisa é ter sede própria, porque o local é alugado, e precisamos manter: pagar luz, água, lanches para as crianças, uniforme, o quimono, e tudo isso nós estamos precisando”, declarou a judoca. E reforçou sua missão como atleta ao desenvolver esse trabalho social: “A medalha me dá uma responsabilidade maior não só como atleta, mas como cidadã. Muitas crianças se espelham em mim. Daí vem minha responsabilidade”.
Carreira vitoriosa
Ter paciência, perseverar e fazer o certo na hora certa. Sarah Menezes seguiu tudo isso para se firmar como uma das principais atletas do mundo. Superou barreiras e marcou sua carreira esportiva pelo pioneirismo.
O Brasil jamais havia classificado uma mulher para a final do judô olímpico. O melhor resultado era o bronze de Ketleyn Quadros, em 2008, nos Jogos de Pequim. No mesmo ano, Sarah Menezes foi a primeira piauiense a competir em uma Olimpíada e a primeira brasileira a conquistar ouro no Mundial Sub-20, em Amsterdã – dois anos antes, havia sido eliminada na primeira luta.
Em 2009, levou o bicampeonato, em Paris, a única do Brasil com tal feito na categoria de base.
Foi também medalha de ouro na temporada de 2009 nas Copas do Mundo de Madri e Lisboa – nesta última venceu todas as lutas por ippon; medalha de prata no Mundial de 2012, em Paris; bronze no Mundial de 2010, em Tóquio; quinta colocada no Mundial Sênior de 2009, em Amsterdã; e quarta no Grand Slam de Tóquio, em 2009.
Em todos os campeonatos brasileiros que disputou, a piauiense só não foi ouro em 2008, justamente em Teresina. Mas não perdeu o reconhecimento de sua torcida. No ano seguinte, faturou o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta do ano, com ajuda da votação maciça dos conterrâneos na internet.
Ter paciência, perseverar e fazer o certo na hora certa. Sarah Menezes seguiu tudo isso para se firmar como uma das principais atletas do mundo. Superou barreiras e marcou sua carreira esportiva pelo pioneirismo.
O Brasil jamais havia classificado uma mulher para a final do judô olímpico. O melhor resultado era o bronze de Ketleyn Quadros, em 2008, nos Jogos de Pequim. No mesmo ano, Sarah Menezes foi a primeira piauiense a competir em uma Olimpíada e a primeira brasileira a conquistar ouro no Mundial Sub-20, em Amsterdã – dois anos antes, havia sido eliminada na primeira luta.
Em 2009, levou o bicampeonato, em Paris, a única do Brasil com tal feito na categoria de base.
Foi também medalha de ouro na temporada de 2009 nas Copas do Mundo de Madri e Lisboa – nesta última venceu todas as lutas por ippon; medalha de prata no Mundial de 2012, em Paris; bronze no Mundial de 2010, em Tóquio; quinta colocada no Mundial Sênior de 2009, em Amsterdã; e quarta no Grand Slam de Tóquio, em 2009.
Em todos os campeonatos brasileiros que disputou, a piauiense só não foi ouro em 2008, justamente em Teresina. Mas não perdeu o reconhecimento de sua torcida. No ano seguinte, faturou o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta do ano, com ajuda da votação maciça dos conterrâneos na internet.
Fonte: Portal Rede Brasil Atual
extraído na íntegra
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originalmente publicado em 12.09.12
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