Afeganistão: O Talibã, suas atrocidades e a sharia

 Domingo, 29 de Agosto de 2021





líder talibã comunicando a retomada do poder no Afeganistão



Tom Oliveira*


Meus amigos,

Desde 15 de agosto passado, o Talibã retomou o poder no Afeganistão. Mortes e atrocidades tem acontecido diariamente, inclusive de civis , pessoas comuns que nada tem a ver com a guerra particular deles. Talibã é um grupo fundamentalista islâmico formado no fim da invasão soviética do Afeganistão (1979-1989) por estudantes que defendiam uma rígida interpretação do Alcorão para governar o país. Para eles, são os únicos corretos na interpretação da lei islâmica, a sharia e consideram os outros ramos do islamismo deturpados por influência do ocidente, por isso acreditam ser os portadores do " verdadeiro islamismo ". A Sharia é o sistema jurídico do Islã. É um conjunto de normas derivado de orientações do Corão, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas - pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. O país é 99,8% islâmico. As  mulheres só podem sair cobrindo todo o corpo, com meia cobrindo os pés e acompanhadas de um "guarda-costas" do sexo masculino. Se descobertas pelo " taleb ", passarão por atos de violência, chicoteadas , entregue ao soldado combatente ( o taleb ) para sua luxúria e lá no acampamento, além de escrava sexual,  são obrigadas a cozinhar. Caso não aprovem a comida, eles ateiam fogo na própria criatura por ter " cozinhado mal ".

Seu primeiro domínio ocorreu em 1996, quando conseguiu assumir o controle sobre a maior parte do país, tomou Cabul e o Afeganistão  proclamaram um emirado islâmico, como agora no Afeganistão. Nesta primeira tomada de poder, o Talibã proibiu música, filmes, televisão e livros. Artefatos culturais foram destruídos. Os talibãs ficaram tristemente  famosos em dois momentos, quando o líder deles, Osama Bin Laden, determinou  atacar o World Trade Center, nos EUA em 2001 e em 2012, quando balearam a  jovem paquistanesa MalalaYousafsai,  à época com 15 anos, na cidade de Mingora, no Paquistão, apenas porque defendia o direito das mulheres de estudar.  O resultado disso foi a invasão americana ao Afeganistão, a mortes de Bin Laden e a expulsão do que restava no Afeganistão, mas não reconstruíram o Afeganistão, como prometido.  Os EUA manteve uma base na região durante 20 anos,  fato que foi muito dispendioso para os americanos e era cobrado nas ações políticas, sobretudo da oposição,  a retirada das tropas das terras afegãs. Ainda assim, somente em 2020,  já quase no final do Governo Trump, aconteceu uma negociação com os talibãs, na qual comprometia-se a retirar as forças militares do país e libertar cerca de cinco mil prisioneiros talibãs. Já o grupo fundamentalista prometeu não atacar as forças americanas  e não permitir que qualquer grupo ou indivíduo, incluindo a Al Qaeda, usasse o Afeganistão para ameaçar a segurança dos EUA ou de seus aliados.

Mas o Talibã continuou atacando forças de segurança afegãs e civis, e avançou rapidamente sobre o país, com os EUA fazendo " vista grossa " para o problema que estava a acontecer. A rapidez da tomada de poder novamente pelo Talibã teria surpreendido o governo americano, tanto que  o Pentágono precisou retirar às pressas os diplomatas norte-americanos da embaixada na capital.  

Com a volta do regime dos talibãs ao poder, em 15 de agosto passado,  e a declaração de um novo Estado Islâmico do Afeganistão, o temor da comunidade internacional é que haja nova perseguição a homens e mulheres que ocuparam posições de poder nos últimos anos, como é o caso das magistradas afegãs. Três juízes já foram assassinados , sendo um homem e duas mulheres. O juiz Hafizullah (que usava apenas um nome como numerosos afegãos) dirigia-se para o seu escritório de tuk-tuk quando foi assassinado. Duas juízas do Supremo Tribunal foram mortas a tiro em Cabul a 17 de janeiro. Agora, a AJUFE ( Associação dos Juízes Federais do Brasil ) e AMB ( Associação dos Magistrados Brasileiros ) estão diligenciando junto ao Ministério das Relações Exteriores  do Governo Bolsonaro objetivando buscar a concessão de visto humanitário a 270 juízas do Afeganistão. A movimentação das associações brasileiras atende a um apelo da União Internacional de Magistrados (UIM), que na semana passada emitiu comunicado pedindo proteção às juízas afegãs.

A meu ver, todo esse arroubo autoritário e cruel do talibã só foi possível com o início da retirada das tropas americanas do Afeganistão, em consequência do Acordo de Doha entre Donald Trump e o Talibã e, a partir de fevereiro de 2020, as tropas, inclusive internacionais ( da OTAN ), começaram a se retirar, com a promessa de acabar ( a retirada ) em setembro deste ano de 2021, já no governo Joe Biden. Os insurgentes do Talibã pensavam outra coisa, enquanto faziam este " acordo", tanto que, na surdina, começaram a se movimentar e logo na primeira semana de agosto de 2021, já tinham retomado distritos e capitais provinciais, enquanto as tropas governamentais se esfacelavam, e EUA e Otan prosseguiam com sua retirada. Os americanos acreditaram nos líderes talibãs e foram enganados, literalmente. Antes de tomarem o palácio do Governo, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, de 72 anos, e que comandava o país desde 2014, escapou da morte ao fugir do pais e, dias depois,  teve seu paradeiro revelado: ele está em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, com a família, provavelmente com uma mala de dinheiro desviado, conforme noticias na mídia.   Desta vez, no entanto, o Talibã tenta passar uma imagem de moderação e afirmam que não cometerá as atrocidades do passado, o que é visto com suspeição por parte da população afegã, que tenta a todo custo deixar o país. Abarrotado desde domingo, 22, com direito a cenas de afegãos pendurados em aeronaves em movimento, o Aeroporto Internacional de Cabul tem registrado caos. Nesta semana, os Talibãs atacaram a parte do portão do aeroporto de Cabul, onde as pessoas ficam concentradas aguardando o voo de resgate, e mataram  mais de 180 pessoas , incluindo 13 militares americanos, no atentado terrorista. As redes de televisão CBS e CNN e o jornal "The New York Times" dizem que 170 afegãos morreram e ao menos 200 ficaram feridos, citando autoridades de saúde. Em resposta, na noite de sexta para sábado,( 27 para 28 de agosto )  os EUA lançaram ataques com uso de drones exatamente no local, em Nangahar, onde estaria um membro do Estado Islâmico-Khorasan (braço afegão do Estado Islâmico) que se acredita estar envolvido no planejamento de ataques contra os EUA em Cabul. Finalmente, Joe Biden tomou partido e determinou o ataque aéreo cumprindo uma promessa que o presidente fizera  à nação na quinta-feira, 27, quando disse que os autores do ataque ( no aeroporto ) não poderiam se esconder. 

"Vamos caçá-los e fazê-los pagar", o bombardeio norte-americano que matou dois integrantes do estado Islâmico, não será o último disse ele.



* O autor é editor do blog







Fontes:  https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/o-que-e-o-taliba-e-como-o-grupo-tomou-o-poder-no-afeganistao/

https://observador.pt/2021/02/03/terceiro-juiz-assassinado-num-mes-no-afeganistao/

https://www.conjur.com.br/2021-ago-27/juizes-brasileiros-buscam-visto-humanitario-colegas-afegas

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/08/27/eua-lancam-ataque-com-drones-contra-estado-islamico-k-no-afeganistao.ghtml

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/08/23/taliba-ateou-fogo-mulher-cozinhar-mal-diz-ativista-afega.htm

Imagem capturada no site https://meteoriconews.com.br/lider-cristao-afegao-fala-sobre-a-tomada-do-taliba-no-afeganistao/


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