Opinião: A volta da anta
Domingo, 16 de Maio de 2021
Por Diogo Mainardi *
Lula está eleito, segundo o Datafolha. A volta da minha anta, depois de uma breve passagem pela cadeia, escancara o meu fracasso. Eu não tinha interesse pessoal por ele em 2007, quando publiquei Lula é Minha Anta e tenho ainda menos interesse agora. Mas o fracasso é meu e do Brasil, em domar seus impulsos mais animalescos. Eu fracassei, nós fracassamos.
Enquanto eu escrevia o livro catorze anos atrás, Lula e seus comparsas estavam negociando com empreiteiras as planilhas de propinas que, na década seguinte, seriam reveladas pela Lava Jato. Então, Lula é Minha Anta serve como um relato antropológico. Eu não sou Euclydes da Cunha, claro, mas descrevo uma sociedade ancestral que parecia extinta, e que voltou e que voltou a nos assombrar, porque é atávica: somos incapazes de nos livrar dela.
Depois que escrevi o livro, Lula conseguiu eleger duas vezes Dilma Rousseff, sempre com aquele dinheiro de propina dos empreiteiros. Ele foi preso por causa disso, mas preparou o terreno para o triunfo de Jair Bolsonaro, seu verdadeiro poste, que cumpriu a missão de perseguir Sérgio Moro e aniquilar a Lava Jato, aliando-se aos ministros do STF que anularam todos os seus processos. Agora Lula está pronto para voltar: mais velho, mais obsoleto, mais deteriorado, mais emporcalhado. Minha anta está morta, mais ainda caminha. Não adianta capturá-la, porque ela já infectou cada um de nós.
* o autor, Diogo Briso Mainardi, é jornalista, escritor, produtor, roteirista de cinema e sócio da Revista Crusoé
fonte; texto compilado de
https://crusoe.com.br/edicoes/159/a-volta-da-anta/
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