Artigo: Blogueiro Critica a OAB e sua Passividade Diante do Exame de Ordem
Ophir Cavalcante: críticas às provas mal corrigidas do exame de Ordem
terça-feira, 8 de maio de 2012
A ilusão da democracia e a ira de Ophir
Recentemente,
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aplicou o VI exame de ordem
unificado, prova que confere aos bacharéis em Direito a qualificação
necessária para atuarem como advogados. A necessidade da referida prova
para a efetiva prática do exercício da advocacia é algo estranho no
Brasil - apenas poucos cursos utilizam-se de tal medida-, entretanto,
foi considerada constitucional pelo STF (Recurso Extraordinário - RE
603583). Em que pese creditar como válidos os argumentos que consideram a
exigência da prova inconstitucional, creio que a sua existência é
razoável, sendo um importante "funil" para a formação de profissionais
de qualidade.
Entretanto,
temos observado que o exame de ordem não cumpre aos objetivos os quais
supostamente se propõe a alcançar. Mais e mais a prova da OAB torna-se
uma reserva de mercado, dado o excessivo número de bacharéis de Direito
que se formam por ano nas faculdades jurídicas ao redor do país. Nada
errado com isso. Todavia, as discrepâncias apresentadas pelo exame da
OAB chamam aos olhos dos candidatos que, perplexos, não tem a quem
recorrer.
O primeiro
problema aqui é o custo da inscrição. Hoje o bacharel de Direito que
deseja prestar o exame tem que desembolsar a quantia de R$ 200,00
(duzentos reais) simplesmente para poder realizar uma prova. O valor é
obviamente excessivo e não atende aos critérios da razoabilidade e
proporcionalidade que, insculpidos na Constituição Federal como direitos
fundamentais, devem se estender a todo o ordenamento jurídico diante da
verticalidade que o constitucionalismo moderno impõe. Não me parece
razoável que o preço da exame de ordem supere, por exemplo, o de juiz,
como hoje se observa.
Não
bastasse isso, o bacharel que obtiver êxito em sua aprovação no exame
tem que pagar uma taxa para a mera expedição do certificado de aprovação
no valor (variável por seccionais) de R$ 150, em clara ofensa aos
princípios constitucionais já elencados em concomitância com o direito
fundamental de obter certidões independentemente do pagamento de taxas.
Este valor, inclusive, já foi alvo de impugnação pelo MPF de Goiás.
Para
piorar o quadro, passados todos estas etapas financeiramente aviltantes,
o advogado que se inscrever nos quadros da OAB paga uma anuidade que
gira em torno de R$ 500 a R$ 800, para mais ou para menos dependendo do
tempo de inscrição. Como se denota de tais fatos, não é barato nem fácil
ser advogado.
Diante do
arrazoado acima exposto, haveríamos de supor que a prova da ordem é algo
organizado, quase sem falhas. Aí é que o problema se torna gigantesco.
As últimas provas da OAB vem apresentado sérios problemas, sejam
estruturais ou de correção. No V exame, por exemplo, tivemos erros
materiais nas provas de segunda fase de direito penal e direito
constitucional. Até aí tudo bem, afinal a prova é feita por humanos, e
humanos erram. Entretanto, o erro só foi aferido quando a prova já
estava em andamento. E pior, em alguns estados avisaram no inicio da
prova ao passo que em outros somente foi avisado nos últimos minutos, ou
nem foi feito o aviso. A isonomia do certame
foi ridiculamente quebrada.
E a FGV
(aplicadora da prova) o que fez? Externou um comunicado segundo o qual
iria corrigir com parcimônia a atenta a tais fatos as provas, o que, até
onde sei, mostrou-se satisfatório.
No último
exame (VI exame), o problema tomou um vulto maior. Provas foram
terrivelmente corrigidas, questões zeradas não obstante estarem em total
conformidade com o espelho, provas semelhantes com correções
diametralmente opostas entre outros sérios problemas. Tive contato, por
meio de uma pessoa próxima, a uma prova em que a peça (de 5 folhas)
somente teve a primeira página corrigida, dando uma nota totalmente fora
do apresentado pelo candidato.
A FGV não
parece uma instituição séria, e a maneira como as provas da segunda fase
foram corrigidas demonstra o total despreparo para uma prova de tal
monta. Muitos candidatos ficaram desolados, afinal, meses de estudos,
privações, nervosismo e gastos em cursos preparatórios foram jogados no
lixo pela assombrosa correção de sua prova. E a OAB, o que falou sobre
isso? Nada, nenhum comunicado oficial, nenhuma nota, simplesmente se
manteve silente.
Foi então
que, por meio do Twitter, o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, começou
a ser interpelado por alguns furiosos (e com razão) candidatos que
tiveram sua prova mal corrigida. Eis então o que falou o Dr. Ophir, por
meio de sua conta no Twitter:
"Lamento
a agressividade de alguns candidatos que não lograram êxito no último
Exame de Ordem. Não posso interferir em questões individuais e
por isso não vou responder essas manifestações, recomendando serenidade
e respeito, que é o mínimo que um futuro advogado deve ter."
A
manifestação do presidente da OAB, a meu ver, é de um absurdo
incalculável. Quem deve lamentar a passividade da OAB são os candidatos e
não o contrário. Para Ophir, o mínimo que um futuro advogado deve ter é
serenidade e respeito. Respondo, aonde chegaremos com serenidade e
respeito? Teríamos saído da ditadura apenas mantendo serenidade e
respeito? Os excluídos sociais terão um futuro promissor com serenidade e
respeito? É possível evoluir a base de serenidade e respeito?
Não,
respondo. Ao contrário do que o presidente da OAB acredita, serenidade e
respeito (leia-se obediência e conformismo) não são os predicados que o
advogado deve ter para ter sucesso. É justamente o contrário, é lutar a
luta desesperançosa, é quebrar as barreiras da conformidade social, é
andar nos limites da Justiça em prol dos seu próprios direitos e de seus
clientes.
Pregar
respeito e serenidade a quem teve usurpado o direito que já era seu é,
por si só, uma manifestação desrespeitosa e carente de um olhar complexo
da situação. À OAB acomete o mesmo vício que a sociedade brasileira
parece reiteradamente repetir: a ilusão da democracia.
A
democracia é boa até que se prove o contrário. Relativizá-la parece ser
a melhor saída para aqueles que não tem capacidade de lidar com a
alteridade. A democracia digital, neste sentido, aparece como uma ameaça
a tais pessoas. Não conseguindo lidar com a opinião contrária,
desvalorizam-na.
Sim,
é provável que muitos comentários fortes tenham sido dirigidos a Ophir.
Sim, tais comentários poderiam ter sido mais respeitosos. Entretanto, a
situação é de tamanha injustiça e desproporcionalidade que a
agressividade falada por Ophir é tão justificável quanto desejável. O
candidato à advocacia deve ser constituído pelo mais alto grau de
irresignação e inconformidade. Deve questionar a tudo e a todos para
lograr sucesso em sua profissão. Porque o Direito não "jogar pelas
regras": é buscar a alteração destas regras em prol do desenvolvimento
social.
Neste
passo, carece ao presidente da OAB uma visão mais democrática. Aceitar a
agressividade de seus interlocutores como algo causado pela instituição
que comanda. Ser humilde a ponto de reconhecer o erro e propor uma
forma de repará-lo. Se não pode fazer isso sozinho, com certeza pode
contribuir para que isto aconteça.
Porque
a democracia não é somente vislumbrada nas eleições, ela é,
principalmente, aferida pelos mais simples procedimentos institucionais
que hoje, no Brasil, ainda guardam muito do autoritarismo de tempos
idos.
Em
que pese o importantíssimo papel em defesa dos direitos constitucionais
que marca a sua política externa, a OAB, internamente, está se tornando
uma superestrutura com poderes tais que não pode ser questionada
judicialmente nem aceita opiniões contrárias. Ela quer que continuemos
submissos a sua vontade gananciosa e autoritária.
Fonte; Blog Palco Jurídico
extraído na íntegra
Foto de tribunahoje.com
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