A Dor da Partida

Quando alguém que amamos parte da vida terrena, fica sempre o desejo de sentir o toque, o cheiro, deixando-nos com a ilusão da presença anelada. Viver e conviver com uma  pessoa querida, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, sentiremos - ou ela, sentirá - a dor da partida, é fato certo porque a vida é finita. A vida segue depois deste desenlace do corpo físico, mas a saudade da pessoa querida ficará em nossas mentes por noites a fio. Tivemos tantas e ótimas oportunidades de fazer o bem, de dizer que a amava, mas ficamos pelo meio do caminho. Sentimos que amávamos aquela criatura somente agora porque sabemos que não a teremos ao nosso lado. Lembro agora da história daquele senhor casado há 21 anos e que se sentia um tanto infeliz no dia-a-da. Sua esposa sugeriu-lhe que, a partir daquele dia, ele sairia para jantar com outra mulher,e que você, meu querido, a ama tão ou mais que a nós, e foi logo acrescentando, sua mãe . Surpreendido e adorando a ideia, foi ao restaurante com a mãe, uma senhora  viúva há mais de 20 anos. Notou que sua mãe estava  emocionada, ostentava um coque no cabelo e seus olhos irradiava luz, como um anjo.Ao entrar no mu carro, foi logo dizendo: eu disse para as minhas amigas que ia sair com você, e elas ficaram impressionadas. Ao descer, mamãe agarrou no meu braço e, de cabeça erguida, parcendo uma primeira dama, adentramos ao restaurante. A conversa foi amena, de família, agradável. Ao deixá-la em casa disse que somente sairia novamente comigo se deixasse pagar a conta.  Minha esposa quis saber: "como foi o encontro?", - foi agradável, estou feliz, muito mais do que poderia imaginar. Uma semana depois minha mãe morreu de infarte fulminante. Quando voltei ao restaurante que estive com minha mãe, recebi do maitre um envelope com a cópia de um cheque e uma pequena nota, que dizia: "o jantar que teríamos paguei antecipado. Estava quase certa de que eu poderia não estar ali com você e, por isso, paguei e quero que você vá com a sua esposa. Jamais entenderá o que aquela noite significou para mim. Seja sempre assim. Te amo." 
Em 2000, foi o ano em que meu pai completou 80 anos de vida. Lembro que, até então, nunca tivera uma comemoração de seu aniversário a altura do acontecimento. Por esta época, acabara de comprar um sitiozinho na zona rural de Teresina e, com o pretexto de fazer a benção do referido sítio, reuni todos os irmãos, exceto o que mora no Rio, que não pôde comparecer, e mais demais parentes, e fizemos o seu niver com muita  amor. A alegria saltitava nos seus olhos. Ao se despedir, ele disse: " obrigado, meu filho, por esta festa maravilhosa!". Uma semana depois, quis o destino, meu pai morreu de infarte fulminante. Tempo depois, soube pela minha mãe, que ainda vive, graças a Deus: " Seu pai adorou tanta a festa que era só o que ele falava ..."
 Um filho, alguém já disse, não é apenas uma extensão biológica dos pais, mas também psicológica. Acompanhar os seus primeiros passos, a primeira queda, o surgimento do primeiro dentinho, é tudo motivo de alegria e comentários em família. Há mães, inclusive, que fazem álbum somente desta fase, talvez por isso devemos acreditar, como somos reconfortados pela Igreja, que o nosso ente querido partiu desta mas foi  para uma outra vida, noutra dimensão, ao lado de Deus. Neste caso, devemos colocar a música " Pedaço de Mim ", de Chico Buarque, pois representa bem a saudade destes primeiros dias:
Oh, pedaço de mim,
oh, metade afastada de mim,
leva o teu olhar
que a saudade é pior tormento
é pior do que esquecimento
é pior do que entrevar( http://br.youtube.com/watch?v=HFKv-ytxfX...)
                                 ( http://br.youtube.com/watc?v=ElevYsUDO...).

Devemos encarar a dor da partida, a morte de um ente querido, como uma oportunidade de abrir nossos olhos para a luz da compreensão da nossa existência, e isso, penso, nos tornará mais fortes e confiantes neste momento de provação.

Tom Oliveira